Guilherme Ribeiro

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[Des]Diplomacia?

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Polêmica, a decisão do STF que julgou inconstitucional a exigência do diploma para o exercício da profissão de jornalista dividiu opiniões e abriu espaço para novas discussões.

Um dos selos da campanha da FENAJ
Selo da campanha da FENAJ

Muito já se falou – e com certeza será falado – a respeito  do recurso extraordinário [RE 511961] que deu provimento à causa impetrada pelo  SERTESP – Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão de São Paulo – em conjunto com o Ministério Público Federal contra a obrigatoriedade do diploma para a prática do jornalismo. O julgamento ocorrido no dia 17/06/09 foi várias vezes adiado e motivou uma série de protestos, campanhas e mobilizações em meio à classe diretamente afetada bem como na sociedade em geral.

A maior preocupação dos atuais ou futuros jornalistas, formados ou em vias de, portadores do MTB – registro profissional equivalente ao CRM, OAB, etc. – ou dele desejosos, provavelmente varie entre as possibildiades de haver aumento na concorrência para o mercado de trabalho e, supostamente, a queda na qualidade da produção dos textos jornalísticos, a falta de ética e compromisso com a verdade, a má apuração dos fatos, o acirramento dos jogos de interesses, etc…

Não acredito nisso.

Em Direito fala-se em validade de uma lei – ou norma jurídica. Essa validade divide-se basicamente em duas vertentes: a validade formal e a validade social. A primeira trata da parte burocrática – não menos importante, mas mera consequência necessária: projeto, aprovação, julgamento, sanção, publicação, prazo para início do vigor; já a segunda – e que mais nos interessa neste assunto – “corresponde aos efeitos produzidos por ela na sociedade, sua eficácia e adequação”¹. Já perceberam onde vamos chegar?

O que faz pensar que os veículos sairão contratando pessoas sem qualquer conhecimento em comunicação social aplicada ao jornalismo ou profissionais de outras áreas para tomar o lugar dos jornalistas? A não exigência do diploma é mera formalidade, consequência de um conflito legal há muito existente. A não obrigatoriedade do diploma corre grandes riscos de não ter adesão popular nem dos que empregam nesta área.

Não podemos deixar de reconhecer que a concorrência por uma vaga de jornalista em determinados veículos de comunicação, em remota hipótese, pode sim aumentar, mas cabe aos futuros jornalistas sair da sala de aula mais do que portador de um diploma. Sabe-se que formados, os candidatos ao emprego de jornalista tem maores chances de atender ás expectativas e requisitos da profissão, mas a formação em massa, robotizada, de profissionais mecanizados e cheios de teoria é alvo de severas críticas de gente importante deste ramo, além de contribuir para um jornalismo cada vez mais alinhado ao senso comum e sem nenhum atrativo.

Não será a permissividade de que qualquer brasieliro torne-se jornalista a vilã desta classe profissional, mas sim os que a integram. A falta de reciclagem técnica, a subjetividade e a falta da ousadia em detrimento da mesmice, por exemplo, podem represntar maiores riscos para o profissioanl desta área do que a própria ‘queda’ do diploma.

Publicitários não precisam de diploma, nem escritores, artistas plásticos também não, músicos menos ainda. E são eles os mais crassos exemplos de profissionais ligados à arte, criação e livre expressão do pensamento.

Ao contrário do que se pensa, o fim do diploma deve ajudar os cursos de jornalismo. Basta ler um texto universitário para ver a inviabilidade da linguagem acadêmica na mídia. Os profissionais que desejarem prosperar numa Redação terão de reciclar sua linguagem e lidar com as técnicas de comunicação; o acadêmico tem a reverência do processo; o comunicador, a do instante.

Gilberto Dimenstein, Folha de S. Paulo, 21/06/09.

Espero sinceramente ter conseguido expressar minha tranquilidade, enquanto aluno do 4º semestre de Jornalismo, em relação a passageira incerteza que povoou minha mente nos dias que sucederam o julgamento do tal RE.

Mas hoje confesso que acredito em cada palavra do que disse aqui, e ainda que concordo piamente com Dimenstein.

¹Citação de Erika Camargo Vegners

Written by Guilherme Ribeiro

07/07/2009 at 22:15

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